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Yamandú Orsi, candidato da Frente Ampla à Presidência do Uruguai, vota no departamento de Canelones — Foto: Eitan ABRAMOVICH / AFP

Projeções apontam para segundo turno entre esquerda e centro-direita na eleição presidencial no Uruguai

Os uruguaios foram às urnas neste domingo em eleições gerais que colocaram frente a frente a esquerda da Frente Ampla, hoje na oposição, e a centro-direita do governista Partido Nacional. Segundo projeções divulgadas cerca de uma hora após o fechamento das urnas, eles devem voltar a se enfrentar em um segundo turno, no dia 24, para definir quem será o presidente pelos próximos quatro anos. O comparecimento às urnas foi de 89%, de acordo com as autoridades eleitorais.

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Os números da consultoria Cifra, apresentados pela rede Telemundo, mostram o candidato da Frente Ampla, de esquerda, Yamandú Orsi, com 44% dos votos, seguido por Álvaro Delgado, do governista Partido Nacional e ligado ao atual presidente Luis Lacalle Pou, com 27% dos votos. Em terceiro surge Andrés Ojeda, do Partido Colorado, que tem foi comparado ao líder argentino Javier Milei, com 16%. Para que a eleição fosse definida neste domingo, um dos candidatos precisaria de mais de 50% dos votos.

Em discurso aos apoiadores após o anúncio dos resultados parciais, Orsi demonstrou confiança na vitória, e dizendo que não há coisa melhor “do que um povo fazendo sua história”.

— Hoje é uma noite de celebração da democracia, que por 40 anos sustentou ininterruptamente a república, sustentou a liberdade. O Uruguai está mais uma vez no noticiário hoje por sua cultura cívica — disse Orsi. — Nossa Frente Ampla, nesse concerto de partidos, é mais uma vez o partido mais votado do Uruguai. Somos o partido que mais cresceu nessa eleição. Estamos indo para esse último esforço com mais desejo do que nunca, com mais força do que nunca.

Yamandú Orsi, candidato da Frente Ampla à Presidência do Uruguai, vota no departamento de Canelones — Foto: Eitan ABRAMOVICH / AFP

Seu rival no segundo turno, Alvaro Delgado, ex-secretário da Presidência de Lacalle Pou, votou na sede de um banco em Montevidéu, e ressaltou seu trabalho ao lado do atual chefe de Estado como diferencial em relação ao candidato da esquerda.

— A vantagem que tenho é que passei quatro anos na torre executiva como secretário da Presidência, governando. Então eu não preciso fazer uma pré-temporada, apenas começar a jogar. A primeira reunião que eu já disse várias vezes, às 9h da manhã, será com o ministro do Interior e com os chefes da Polícia — declarou a jornalistas.

Candidato do Partido Nacional à Presidência do Uruguai, Alvaro Delgado acena após votar em Montevidéu — Foto: Santiago Mazzarovich / AFP
Candidato do Partido Nacional à Presidência do Uruguai, Alvaro Delgado acena após votar em Montevidéu — Foto: Santiago Mazzarovich / AFP

Correndo por fora, Andrés Ojeda, do Partido Colorado, votou em Montevidéu, demonstrando ter esperança de surpreender na reta final. Durante a campanha, o advogado de 40 anos apostou nas redes sociais, no discurso questionando a “política tradicional” e nas comparações com o ultraliberal Javier Milei, presidente da Argentina, com quem afirma ter “muitos pontos em comum”.

— Hoje somos o cogoverno do futuro Uruguai. Ensinamos uma boa lição à política e ao Uruguai — disse, em declarações a apoiadores após a divulgação das projeções, nas quais confirmou que apoiará Delgado no segundo turno e considerou positivo seu resultado nas urnas. — O governo não pode ser conquistado sem nós.

Candidato do Partido Colorado à Presidência do Uruguai, Andrés Ojeda vota em Montevidéu — Foto: DANTE FERNANDEZ / AFP
Candidato do Partido Colorado à Presidência do Uruguai, Andrés Ojeda vota em Montevidéu — Foto: DANTE FERNANDEZ / AFP

Outrora um país que se orgulhava de sua relativa calmaria e segurança, o Uruguai se vê em meio a uma onda de violência ligada ao tráfico de drogas, que levou os índices de homicídios a índices jamais vistos, assim como as taxas de crimes violentos, especialmente em Montevidéu.

— Os uruguaios veem seu país como um lugar estável e pacífico — disse John Walsh, diretor de política de drogas do centro de estudos Washington Office on Latin America, em entrevista ao Guardian. — De modo geral, isso continua verdadeiro há muito tempo, e agora os uruguaios estão compreensivelmente alarmados. Eles têm a sensação de que sua segurança está diminuindo.

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Além da votação que definirá o presidente, 30 senadores e 99 deputados, os eleitores deram sua opinião, em referendos, sobre duas propostas apresentadas pela oposição de esquerda e pelo governo. A primeira delas, defendida pelo presidente Lacalle Pou, quer autorizar operações policiais em residências durante a noite.

Já a segunda, proposta pela central sindical única Pit-CNT com o apoio de setores da Frente Ampla, quer reduzir a idade mínima para a aposentadoria de 65 para 60 anos, eliminar reformas recentes no sistema de seguridade social, ligar as pensões ao valor do salário mínimo e vetar os planos de previdência privados. Os três principais candidatos à Presidência disseram ser contra a ideia.

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Segundo seus defensores, o plano atuará na distribuição de renda e dará aos trabalhadores maior dignidade na hora em que se aposentarem.

— Temos pensões escassas no Uruguai. Os aposentados deste país são pobres — disse o educador Jose Luis Correa, 68, à Reuters. — Se eles puderem cortar os gestores de fundos de pensão privados, haverá mais para nós e para os futuros aposentados.

Cédulas a favor das propostas colocadas em votação nas eleições gerais no Uruguai — Foto: Santiago Mazzarovich / AFP
Cédulas a favor das propostas colocadas em votação nas eleições gerais no Uruguai — Foto: Santiago Mazzarovich / AFP

Mas economistas apontam que a proposta custaria o equivalente a quase R$ 5 bilhões anuais aos cofres públicos, abalando as finanças de um país que ainda tenta se recuperar dos impactos da pandemia da Covid-19 e de uma seca recorde no ano passado. Alguns economistas vão além, e dizem que se o projeto for aprovado, o país pode estar diante de seu próprio “efeito Brexit”, referência aos impactos econômicos da saída do Reino Unido da União Europeia, aprovada em referendo em 2016

— Esta é uma eleição presidencial com um candidato não nomeado e o plebiscito sobre a reforma da previdência — disse Nicolás Saldías, analista sênior da Economist Intelligence Unit ao Guardian. — O Uruguai não tem cobre ou lítio, só tem sua palavra. Se o país não se apegar a isso, então estamos em maus lençois.

Segundo as projeções da consultoria Equipos, nenhuma das propostas recebeu mais de 50% dos votos, e por isso não serão aplicadas.

Apesar da polêmica em relação ao projeto da previdência, analistas apontam para a tranquilidade na disputa uruguaia: os candidatos têm ideias relativamente similares, não estão fazendo referências a conspirações ou questionamentos ao processo eleitoral e, mais importante, dizem que aceitarão os resultados, sejam eles quais forem.

— Em certo sentido, o Uruguai tem sido um país calmo e essa tranquilidade é algo muito positivo — disse Juan Cruz Díaz, analista político e diretor da consultoria Cefeidas em Buenos Aires, à agência Associated Press. — Vimos mudanças drásticas na Argentina, no Brasil, no Equador e na Colômbia, e agora enfrentamos eleições no Uruguai, onde o consenso e a estabilidade prevalecem.

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