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2024 brasileiro fica marcado pela dicotomia entre crescimento e insegurança

2024 brasileiro fica marcado pela dicotomia entre crescimento e insegurança

À meia-noite o ano do calendário vai passar para 2025, mas os impactos econômicos de 2024 prometem reverberar muito além dos próximos 12 meses. A combinação de instabilidade fiscal, desvalorização cambial e aquecimento da economia local consolidou o ano como um dos mais desafiadores da última década para investidores. Quatro indicadores emblemáticos ilustram essa situação:

Ibovespa em queda histórica

O principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, encerra o ano com uma queda de quase mais de 10% nos últimos três meses. Esse trimestre foi o pior desde a crise financeira global de 2008.

A deterioração do cenário fiscal interno, com a falta de compromisso do governo federal em cortar gastos, intensificou a desconfiança dos investidores, resultando em saques maciços de capital estrangeiro. Em 2024, os investidores internacionais retiraram R$ 33 bilhões da B3. No acumulado do ano, o mercado acionário brasileiro perdeu US$ 290 bilhões em valor de mercado. Em termos globais, o Ibovespa foi um dos piores desempenhos, superando apenas os índices de ações da Letônia e do México, em dólares.

Desvalorização recorde do real

O real foi a moeda com o pior desempenho entre as 31 principais do mundo em 2024, acumulando uma desvalorização de 21% frente ao dólar. Nem mesmo as intervenções históricas do Banco Central — que gastou cerca de US$ 20 bilhões em reservas cambiais em duas semanas — conseguiram frear essa derrocada.

No início do ano, o dólar era cotado a R$ 5,00. Agora, encerra o ano em R$ 6,17, uma alta de 27%. A moeda norte-americana provou ser, ao lado da Nvidia, um dos melhores investimentos de 2024.

Desemprego no menor patamar desde 2012

Apesar do cenário fiscal desafiador, o Brasil registra uma economia aquecida e com indicadores de emprego em alta. A taxa de desemprego, no trimestre encerrado em outubro, caiu para 6,2%, o menor patamar desde 2012. Esse resultado reflete uma recuperação consistente do mercado de trabalho, com redução no número de desocupados para 6,8 milhões de pessoas, a menor marca desde o fim de 2014. Esses dados indicam um mercado aquecido, com mais oportunidades para a população e maior dinamismo econômico.

Além disso, o rendimento médio real dos trabalhadores brasileiros alcançou R$ 3.255, aproximando-se do recorde histórico registrado durante a pandemia, mas desta vez sustentado pelo crescimento do emprego formal e informal. A renda subiu 3,9% na comparação com o mesmo período de 2023, consolidando uma tendência de alta iniciada no final de 2022. Esses números mostram que a recuperação do mercado de trabalho está se traduzindo em ganhos reais para os trabalhadores, com mais pessoas empregadas e salários crescendo de forma sustentável.

Caos nas contas públicas e estatais

Apesar das medidas adotadas pela equipe econômica do governo, o déficit fiscal atingiu 9,42% do PIB, um dos maiores níveis da história recente. Para efeito de comparação, em 2019 o déficit era de 5,5% do PIB. A dívida bruta também aumentou significativamente, alcançando 78,2% do PIB.

O setor de estatais não ficou de fora do problema: o Banco Central divulgou que, de janeiro a novembro, as empresas estatais acumularam um rombo de quase R$ 9 bilhões, o pior resultado desde o início da série histórica em 2002.

A insegurança fiscal e o cenário global

A combinação de um déficit fiscal crescente e a falta de clareza sobre o compromisso do governo com o controle das contas públicas intensificaram a percepção de risco. No entanto, o cenário externo também deve trazer desafios adicionais ao Brasil em 2025.

Com a eleição de Donald Trump e o chamado Republican Sweep — quando o Partido Republicano garantiu a Casa Branca, além da maioria na Câmara e no Senado —, os mercados financeiros americanos reagiram positivamente no curto prazo. O entusiasmo se explica pela expectativa de cortes de impostos e desregulamentação de setores, medidas que prometem acelerar a economia. Essa visão impulsionou recordes nos índices S&P 500 e Nasdaq, além de uma alta no preço do Bitcoin e de outras criptomoedas.

Entretanto, analistas alertam para os possíveis efeitos colaterais de uma política tão expansionista. Combinando reduções fiscais com estímulos à economia, os EUA podem enfrentar um aumento significativo da inflação no médio prazo, o que pressionaria o Federal Reserve a elevar as taxas de juros. Um ambiente de juros mais altos nos Estados Unidos tende a atrair capital global, agravando ainda mais a saída de recursos de economias emergentes, como o Brasil.

O “Billionaire Ambitions Report 2024”, divulgado pelo UBS em parceria com a PwC, reforça essa perspectiva. Enquanto 80% dos bilionários globais esperam bons retornos nos EUA em 2025, apenas 68% mantêm a mesma confiança no horizonte de cinco anos, refletindo a preocupação com os impactos de longo prazo das políticas de Trump.

Sem soluções estruturais e maior previsibilidade nas políticas fiscais internas, o Brasil começa 2025 com desafios que vão além de recuperar o terreno perdido. O cenário global, combinado à instabilidade doméstica, exigem não apenas ajustes, mas uma estratégia clara para reconstruir a confiança no futuro econômico do país.



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