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Foto frontal de Delânia Santos

Saiba como a proposta pelo fim da escala 6×1 impacta empregadores e empregados – Delania Santos

O possível fim da escala 6×1 abre uma oportunidade para o trabalhador ter mais tempo de descanso e para atividades pessoais, promovendo um equilíbrio mais saudável entre vida e trabalho. Esse seria um avanço? É justo comparar a realidade brasileira ao cenário de países que já adotaram uma carga horária reduzida? Quais cuidados precisamos ter com essa nova proposta, e como ela impacta empregadores e empregados?

A escala 6×1 é um modelo muito comum na indústria, no comércio, em restaurantes e mercados, por exemplo. Nesse formato, os profissionais com carteira assinada trabalham seis dias consecutivos e têm um dia de descanso semanal, totalizando as 44 horas de trabalho semanais definidas pela CLT.

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A nova PEC almeja alterar um trecho da Constituição que limita a duração do dia trabalhado a até 8 horas, com uma jornada semanal de 44 horas. O projeto visa permitir outras distribuições de horas por dia e semana, para que as empresas organizem escalas com mais folgas semanais.

A proposta sugere uma escala 4×3, em que o empregado trabalha quatro dias por semana e folga nos outros três. Esse modelo já é testado em algumas empresas brasileiras no projeto da organização 4 Day Week Brasil, que apresenta resultados positivos em produtividade.

Em julho de 2024, o experimento da semana de quatro dias de trabalho no Brasil completou seis meses, alcançando o apoio de 97,5% dos participantes. Das 21 empresas que iniciaram a experiência em janeiro, 19 já concluíram o projeto, envolvendo 252 funcionários, segundo o relatório final do piloto.

Vale ressaltar que a proposta da semana de quatro dias envolve diversas questões que podem afetar sua efetividade. O projeto adota o modelo 100-80-100, ou seja, o funcionário tem 100% do salário garantido, com 80% das horas de trabalho, mas mantendo 100% do desempenho. Especialistas destacam que o sucesso desse modelo pode se limitar a determinadas áreas de atuação.

Certamente, a possível mudança na escala de trabalho 6×1 levanta muitas questões relevantes para o mercado de trabalho brasileiro. Em primeiro lugar, o impacto na saúde mental e física dos trabalhadores é um ponto essencial.

Com mais tempo de descanso, é possível que os índices de esgotamento e estresse diminuam, promovendo maior bem-estar e produtividade. Além disso, esse modelo pode fortalecer os vínculos familiares e sociais, permitindo que o trabalhador se dedique mais à vida pessoal.

E para os empresários?

Para os empregadores, surgem desafios importantes, como a adaptação dos processos de produção e atendimento, especialmente em setores que demandam operações contínuas, como a indústria e o comércio. A redução da jornada sem perda de produtividade exigirá planejamento e, possivelmente, investimentos em novas contratações, tecnologia e treinamento para que a mudança seja sustentável.

Outro aspecto a ser considerado é a diferenciação entre setores e regiões do país. Nem todas as áreas terão a mesma capacidade de implementar um novo modelo de jornada de trabalho, especialmente em pequenas e médias empresas que dependem de um quadro reduzido de funcionários.

Por fim, é essencial uma análise detalhada de como o cenário brasileiro difere dos países que adotaram a redução da jornada. É necessário considerar aspectos culturais, econômicos e sociais que influenciam as necessidades e as possibilidades de adaptação.

Reflexões para o futuro do trabalho no Brasil

A possível implementação de uma escala 4×3 ou de uma semana de quatro dias levanta reflexões importantes sobre o futuro do trabalho no Brasil. O cenário global já aponta para uma tendência de valorização da qualidade de vida e do bem-estar dos profissionais, o que se reflete em iniciativas que buscam um equilíbrio maior entre vida pessoal e profissional.

Contudo, é essencial que o Brasil esteja atento às especificidades do seu mercado e à sua estrutura produtiva. Em setores como o agronegócio e a indústria pesada, a adaptação para um modelo com mais folgas semanais pode exigir ajustes significativos, incluindo maior automação e reestruturação das equipes. Em contrapartida, setores de serviços, tecnologia e outras áreas nas quais o trabalho remoto ou híbrido é viável podem encontrar maior flexibilidade para testar a semana reduzida.

Impacto nas relações de trabalho

Uma mudança na jornada de trabalho também pode alterar a forma como empregadores e empregados enxergam suas responsabilidades e expectativas. Em um modelo 4×3, por exemplo, o trabalhador pode sentir-se mais motivado a buscar produtividade e qualidade de entrega durante os dias de trabalho, sabendo que terá um período maior de descanso. Contudo, essa transformação deve vir acompanhada de uma comunicação clara entre as partes para evitar sobrecarga e garantir uma distribuição de atividades realista.

Outro ponto importante é a valorização da autonomia e da confiança. Com jornadas reduzidas, as empresas podem incentivar o desenvolvimento de uma cultura de accountability, na qual cada colaborador é responsável por gerenciar seu tempo e alcançar os resultados desejados. Esse aspecto pode contribuir para um ambiente de trabalho mais colaborativo e menos baseado no controle estrito. Um modelo que exige maturidade de ambos e um compromisso leal.

Outras medidas já foram “demonizadas” no passado, tais como a CLT, 13º salário, limite de horas trabalhadas por dia e férias remuneradas. A crítica pela crítica não equaliza as questões que envolvem a relação entre empregador e empregado. A adoção de novas jornadas envolve uma mudança de mentalidade, na qual a produtividade é medida não apenas em horas trabalhadas, mas em resultados alcançados e na qualidade de vida dos colaboradores. Considerar, também, as necessidades de diferentes setores da economia é imprescindível.

A conscientização e o diálogo aberto entre todos os envolvidos podem facilitar essa transição e ajudar a construir um mercado de trabalho mais justo, inovador e equilibrado.

Nesta coluna, abordo temas relacionados a carreira, liderança, coaching e as principais tendências do mercado. Contribua deixando sua pergunta ou sugerindo um tema nos comentários ou através do meu Instagram @delaniasantosds. Inscreva-se também no canal do YouTube: @delaniasantosds. Será maravilhoso compartilhar essa jornada com você. Até a próxima!

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