Kaya Scodelario viveu a rotina paulistana ao tomar água de coco e passear com seus filhos no Parque do Ibirapuera. Filha de mãe brasileira e pai britânico, a atriz que nasceu em Londres ficou feliz em poder explorar suas origens durante as filmagens da minissérie “Sena” (minissérie que estreia na Netflix nesta sexta-feira, 29.11). Gabriel Leone (garoto da capa e Homem BAZAR) interpreta o piloto. “Tivemos cinco semanas de filmagem em São Paulo. Tirei meus filhos da escola e fomos todos para o Brasil. Queria realmente sentir como era morar na capital paulista. Alugamos uma casa perto do parque. Eu ia ao supermercado todos os dias. Quis aproveitar essa oportunidade para realmente me conectar com o País. Fomos para a Bahia, Rio e Itú, onde visitei minha família. Foi gostoso”, conta Kaya, de sua casa em Londres, em uma conversa em que transitou entre o português (quase sem sotaque) e seu inglês britânico.
Kaya tinha apenas dois anos quando Ayrton Senna sofreu um acidente fatal, em 1994. Seu primeiro contato com a história do piloto aconteceu em um cinema em Camden Town, quando assistiu ao documentário “Senna”, de Asif Kapadiaem 2010. “Cresci cercada por muitos brasileiros. Então, sempre ouvi eles falando sobre o Ayrton. Lembro de entrar no cinema e só encontrar brasileiros na sessão. Foi uma experiência tão forte, bonita e emocionante. Estou acostumada com os britânicos, que são mais quietos e reservados. Durante a sessão, havia pessoas chorando e gritando. Foi o máximo. Aquilo me causou um grande impacto, não só pelo ídolo, mas porque entendi o quão poderoso é contar a história de alguém.”
Em “Senna”, ela vive Lauraa única personagem fictícia do roteiro, criada para acompanhar a trajetória do piloto desde os karts até o acidente em Ímola. Assim como na vida de Kaya, Laura tem identidade dividida entre Brasil e Reino Unido, o que tornou o papel ainda mais especial para a atriz. “Quando eles escreveram, se deram conta de que precisavam de uma personagem que acompanhasse toda a carreira dele, e então a criaram”. O fato da personagem ter essa dupla identidade foi um fator decisivo? “Sim, estava buscando um projeto brasileiro há 12 anos. Ficava dizendo para meu agente que queria filmar no Brasil, fazer algo em português. Foi bastante desafiador, já que nunca estudei português. Aprendi conversando com minha mãe.”
Kaya mantém a conexão com a cultura brasileira falando português com seu filho de sete anos, cujo nome prefere não revelar. Em casa, escuta Seu Jorge, Gilberto Gil, Ivete Sangalo e sambas clássicos que Gabriel Leone apresentou. Durante uma semana em Trancoso, seu filho adorou ver as pessoas dançando forró. ”Coloco (a playlist) ‘Brazilian Classics’ no Spotify e passo o dia escutando”, diz ela, que também guarda carinho por lambada e as músicas de Xuxa e É o Tchan, ícones de sua infância. Sua ligação com a música não para por aí. Em 2012, estrelou o clipe “Candy”, de Robbie Williams. Kaya despontou na série “Peles”que abordava juventude britânica regada a sexo, drogas e rock’n roll. No cinema, estreou em “Lunar” (“Lua”), o Duncan Jonesfilho de David Bowie. “Bowie é um herói pra mim, mas só descobri que ele era pai de Duncan no fim das filmagens. É um filme lindo, que adoro.’”
Kaya já enfrentou estereótipos por ser considerada “caliente demais” em comparação aos britânicos. “No início, namorados achavam minha brasilidade fascinante, e depois diziam que eu era muito briguenta e emocional. Somos apaixonados e, muitas vezes, mal interpretados.”
Para a série “Magnatas do Crime” (Netflix), dirigido por Guy Ritchie e com uma segunda temporada prevista para 2025, Kaya vive Susanauma poderosa líder de um cartel de maconha. Enquanto Susie explora seu lado britânico, Laura, de “Senna”, destaca a conexão com suas raízes brasileiras. “O que mais gostei em fazer a Susie é que ela lida de igual para igual com os homens. Eu apenas busquei minha vadia chefe interior. Por outro lado, tive a sorte de crescer cercada de mulheres fortes. Nunca conheci uma mulher brasileira que não fosse poderosa. Portanto, acho que também há um lado brasileiro em Susie.”
A primeira vez que Kaya descobriu sua paixão pela atuação foi quando ainda era criança. “Atuar sempre foi um sonho, mas era muito tímida na escola. Lembro de participar de uma montagem de ‘Oliver Twist’, aos dez anos, onde fazia o personagem-título. Foi o momento mais feliz da minha infância. Adorei ser outra pessoa por um tempo. Adoro fazer personagens de mulheres fortes. Ninguém vai me dizer que não posso ser o próximo James Bond, ou algum super-herói.” Digo que ela seria um ótimo nome para viver 007, não fosse o detalhe de que o personagem morreu no último filme. “Na verdade, queria mesmo ser a vilã que mata o Bond”, diverte-se. Trabalhar no Brasil é uma prioridade. Kaya busca histórias que retratem a dubiedade de não se sentir em casa, além de jovens talentos fora do radar. “Quero passar mais tempo no Brasil no próximo ano para explorar essas conexões. Veremos.” O Brasil te espera!
Sobre trabalhar com Gabriel Leone
“Eu adoro ele! Que pessoa bonita. Me ajudou muito, com minhas inseguranças. Ele realmente é uma pessoa muito especial. É um ótimo ator. Eu senti isso no primeiro dia, conhecendo ele. Fomos jantar e eu já percebi que ele era uma pessoa incrível, e um ator muito focado. Principalmente para um ator da idade dele. Ele parece ter a alma de uma pessoa de 50 anos. Muito profissional, ele estava lá todos os dias. Não sei quando ele dormia, e como ele conseguiu. Sempre com um sorriso. Zero estrela. Realmente, acabamos tendo uma conexão muito forte. E no primeiro dia, vendo ele vestido como Senna, e com o cabelo, foi muito emocionante e muito bonito. Um projeto assim tem uma responsabilidade muito grande. Ele sabia da sua responsabilidade, mas não tinha medo. Ele queria fazer justiça ao personagem, e fez isso de forma brilhante”, revela Kaya Scodelario.