Os Estados Unidos e a União Europeia pediram nesta segunda-feira (28) uma investigação completa dos resultados das eleições parlamentares na Geórgia, realizadas no sábado (26). O partido Sonho Georgiano, atualmente no governo e próximo a Moscou, venceu com quase 54% dos votos, à frente da oposição pró-Ocidente, que denunciou diversas irregularidades.
Em um discurso no domingo, a presidente da Geórgia, Salome Zourabichvili, que defende a adesão da Geórgia à UE, não reconheceu o resultado das eleições, que ela qualificou de “operação especial russa”. Zourabichvili convocou manifestações em todo o país.
De acordo com a imprensa local, a primeira-ministra Irakli Kobakhidze, do partido Sonho Georgiano, disse que a presidente e seu campo estavam tentando derrubar a “ordem constitucional” e que seu governo continuava comprometido com a integração europeia.
Observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) se recusaram a afirmar que houve fraude na eleição e disseram no domingo ter observado casos de compra de votos, intimidação de eleitores e preenchimento de cédulas, que poderiam ter influenciado o resultado.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, anunciou que os Estados Unidos apoiavam os pedidos de uma investigação completa. “No futuro, encorajamos os líderes políticos da Geórgia a respeitar o Estado de Direito, revogar leis que infringem as liberdades fundamentais e abordar as deficiências do processo eleitoral”, disse ele em um comunicado.
A União Europeia e a Otan também pediram à Geórgia que investigue de forma rápida e transparente as supostas irregularidades na eleição. “A UE reitera que qualquer legislação que prejudique os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos georgianos e vá contra os valores e princípios da UE deve ser revogada”, disse a Comissão Europeia em um comunicado.
A Alemanha também condenou as “irregularidades significativas” que ocorreram durante as eleições parlamentares na Geórgia, disse o Ministério das Relações Exteriores na segunda-feira, referindo-se em particular à intimidação de eleitores e problemas com o respeito ao sigilo do voto.
“Condenamos essas violações dos padrões internacionais e nos unimos aos observadores internacionais para pedir uma investigação completa sobre as irregularidades relatadas”, disse o porta-voz do ministério, Sebastian Fischer, em uma coletiva de imprensa. Ele também se referiu a casos relatados de voto duplo e violência nas seções eleitorais.
Adesão à UE é prioridade
O partido governista da Geórgia, que venceu as eleições parlamentares, disse na segunda-feira que a integração europeia continua sendo sua “prioridade”, em resposta à oposição pró-Ocidente, que a acusa de deriva autoritária pró-Rússia e convocou manifestações no final do dia.
A União Europeia expressou preocupação com a vitória do partido Sonho Georgiano nas eleições de sábado, pedindo uma investigação sobre “irregularidades eleitorais”. Mas o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que é próximo de Moscou, é esperado na Geórgia na segunda e terça-feira. A Hungria detém a presidência rotativa do bloco.
O líder húngaro “não representa a União Europeia”, disse o chefe da diplomacia europeia, Josep Borell, na segunda-feira. Diante da controvérsia emergente, o primeiro-ministro georgiano Irakli Kobakhidze repetiu que a “principal prioridade” de Tbilisi em termos de política externa é, obviamente, a integração europeia.
“Tudo será feito para garantir que a Geórgia esteja totalmente integrada à UE até 2030”, prometeu ele a jornalistas, dizendo que “espera uma volta das relações” com Bruxelas, após grandes tensões nos últimos meses, em um cenário de deriva autoritária pró-Rússia, segundo a oposição.
De acordo com os resultados, o Sonho Georgiano teve 53,92% dos votos, contra 37,78% da coalizão de oposição. “Somos testemunhas e vítimas de uma operação especial russa, uma forma moderna de guerra híbrida contra o povo georgiano”, denunciou a presidente Salome Zourabichvili no domingo, rompendo com o governo, sem especificar suas alegações.
O porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, disse que “rejeita firmemente” essas acusações “totalmente infundadas”, acusando Zourabichvili de “tentativas de desestabilizar” seu próprio país.
A oposição acusa o partido governista, liderado pelo bilionário Bidzina Ivanishvili, de aproximar a Geórgia de Moscou e distanciá-la de uma possível adesão à União Europeia e à Otan. O ex-presidente Mikheil Saakashvili, agora preso e rival de Ivanishvili, também convocou “manifestações massivas” para “mostrar ao mundo que estamos lutando pela liberdade”.
Com informações da AFP