Neste sábado (16), Jon Jones sobe ao octógono do UFC no que pode ser a última luta de sua carreira, no evento principal do UFC 309, contra Stipe Miocicno Madison Square Garden, em Nova York.
Em uma extensa entrevista exclusiva à ESPNo lutador americano falou de tudo. Montou seu mural de maiores lutadores da história do MMAcolocando Anderson Silva entre eles, rebateu as acusações de estar “fugindo” de Tom Aspinallchamou Alex Poatan de lenda, elegeu os dois maiores momentos de sua carreira e muito mais.
Perguntado sobre a sensação de ser escolhido entre um dos melhores lutadores de todos os tempos por grande parte dos fãs, Jones disse “se sentir honrado” com as lembranças.
“Fico lisonjeado com isso, honrado. É uma motivação provar às pessoas que acreditam que eu sou o melhor. É por isso que trabalho tanto, levo meus oponentes a sério e faço o estudo que faço. É um presente de agradecimento aos meus fãs”, disse.
Quando foi pedido para montar um Monte Rushmore dos maiores lutadores da história e colocar três pessoas ao seu lado, Jon mostrou bastante carinho com o Brasil: escolheu Anderson Silva, George St-Pierre e “qualquer um da família Grace”.
Outro ponto abordado no bate papo foi uma possível aposentadoria pós luta com Miocic. Jones voltou a falar de Anderson Silva e usou ainda LeBron James e Michael Jordan, astros da NBA, como exemplo.
“Sinto que estou debatendo se vou me aposentar ou não. Eu realmente não sei se vou me aposentar ou não. Sinto que vou basear muito na minha performance. Se for uma performance dominante, obviamente vão ter várias questões. Não só na minha mente, como na do meu time. Esse é um esforço de toda a família, essa carreira”, explicou.
“Sinto que na cultura do esporte, vários atletas não param em seus próprios termos. Você vê Jordan que quis voltar e foi um jogador de beisebol mais ou menos, depois um jogador de basquete médio nos Wizards. Essas são algumas das últimas memórias que você tem dele, do declínio. Anderson Silva, caras como Chuck Liddell, que não conseguiam tomar um soco no final da carreira. Um jogador de basquete que perde vários jogos de qualquer maneira, você viu Jordan perder, você viu LeBron perder, mas como um lutador de MMA, quando você consegue ir tão longe, a aposta é muito maior. Fica muito maior, mas você está arriscando nossas células do cérebro, é algo neurológico que temos que levar à sério”.
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Enquanto se prepara para lutar com Miocic, Jones está sendo “acusado” nas redes sociais de “fugir” da luta com Aspinall, atual campeão interino dos pesados. O dono do cinturão linear rebateu as acusações e aproveitou a oportunidade para exaltar Alex Poatan.
“Todo mundo quer lutar comigo. É assim que é”, disse. “Como é que o Conor fala? É a noite da calcinha vermelha? Tom está pensando corretamente, ele tem que querer lutar com os melhores do mundo. Acredito que ele tem tempo para lutar com os melhores. Em relação a lutar comigo agora, eu vou lutar com Stipe. E você não chega tão longe como eu na carreira no UFC olhando para além de seus oponentes. Estou ciente de quem é o Tom, o trabalho que ele está fazendo ou deixando de fazer”.
“Talvez eventualmente, se ele conseguir ganhar algumas coisas no UFC. Acho que até agora o único campeão que ele lutou ou ganhou foi Andrei Arlovski, que já está bem longe do auge. Ele ganhou o cinturão interino contra Sergei. E Sergei foi assassinado na última luta. Então, você ganhou de caras que nem são campeões e você se considera um campeão. Ele não é um campeão. Se eu for pensar em lutar novamente, a pessoa que mais merece é Alex Pereira. Alex ganhou de vários campeões, nocauteou gente aqui e ali, tem a oportunidade de ser campeão em três categorias se ganhar de mim. Ele é uma lenda maior e uma estrela maior atualmente nos EUA que o Aspinall. Esse é o tipo de luta que eu quero para a minha carreira”.
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Americano falou com exclusividade à ESPN
Por fim, Jones elegeu os dois momentos que “moldaram sua carreira no UFC”.
“Quando eu ganhei de Stephan Bonnar. Acho que foi minha segunda luta no UFC, foi um salto muito grande pegar Bonnar logo depois de André Gusmão. Stephan estava no finale do TUF, ele era muito famoso. Ele e Forrest Griffin fizeram uma luta lendária que trouxe vários novos fãs para o UFC. Foi a primeira vez que eu competi contra alguém que todo mundo na minha cidade sabia quem era. Então, tive que lidar com muita dúvida, de quem estava em volta de mim, as pessoas falando: ‘quem você acha que é? Só de estar no UFC, não tem jeito que ele vai ganhar de Stephan Bonnar’, coisas assim. Dito e feito, ganhei de Stephan Bonnar. Foi a noite que eu voltei para o meu quarto do hotel e percebi que poderia competir com os lutadores do UFC”, relembrou.
“A luta seguinte que eu falaria que mudou meu jeito de ver o esporte foi quando fui campeão pela primeira vez contra Mauricio Shogun, que era alguém que eu admirava e estudei por anos e anos, toda sua carreira no Pride. Dominar ele do jeito que eu dominei, pegar um dos meus ídolos e transformar ele em um rival, só liberou essa crença dentro de mim mesmo de que eu sabia que ganharia de pessoas mais famosas no futuro”.
Outros assuntos da entrevista:
Como foi ganhar de Ciryl Gane na estreia dos pesados?
Ganhar de Ciryl Gane foi uma memória incrível, uma experiência. Lembro que um dos primeiros grandes sentimentos que eu tive foi estar desapontado. Lembro de sentar no topo da grade, comemorando minha vitória, respirando fundo e pensando: “cara, isso foi rápido”. Foram três anos para isso. Muita reza, muita meditação, muito trabalho em equipe e para acabar em dois minutos e quatro segundos, meio que me senti roubado de alguma maneira. Mas a emoção seguinte que senti foi estar grato por não ter me machucado e ter feito meu trabalho, o que eu deveria fazer e de maneira perfeita. Então foram emoções mistas, um sentimento agridoce.
Ganhar de Stipe o coloca como GOAT dos pesados?
Não, infelizmente não. Não é assim que funciona. Tive uma carreira incrível e fico orgulhoso que algumas pessoas me considerem o melhor lutador de todos os tempos. Mas em relação a ser aos pesados, ser o melhor pesado de todos os tempos, tenho que dar isso aos caras que colocaram seu tempo na divisão. Stipe é, sem dúvidas, o número 1 dos pesados na história do UFC. E depois você tem caras como Randy Couture. Daniel Cormier fez um excelente trabalho. Esses são os caras que têm que ser citados como os melhores pesados de todos os tempos.
Por quê manteve Miocic como adversário após a lesão?
Mantive o Stipe porque é o que eu tinha assinado para fazer inicialmente. Eu realmente sinto que eu que comando minha vida, e tento manter os meus planos. Stipe está no meu campo de visão há muito tempo, ele tem todas as conquistas, ele é o oponente perfeito. Eu também acabei de voltar de uma lesão então acho que lutar com Stipe primeiro, até em questão de estilo, faz mais sentido. Tenho muito para reconstruir, reconstruir meus músculos. E várias questões voltando de uma lesão muito grande. Passei por duas cirurgias. Acho que Stipe é um oponente melhor para quem eu sou atualmente e para a minha recuperação como atleta.